Para entender exatamente o que se passa nessa disputa, a GALILEU entrevistou Ethan Zuckerman, especialista em liberdade de expressão na internet, fundador de grupos como o Geekcorps e Global Voices e diretor do Centro de Mídia Cívica do MIT. A seguir, ele explica como funciona a censura na internet:
O que exatamente aparece na tela de um computador quando uma pessoa tenta acessar um conteúdo censurado?
Depende. Normalmente, você vê uma página de bloqueio. Por exemplo, na Arábia Saudita, eles são muito honestos quanto a isso. Eles dizem: “este conteúdo está bloqueado, se você acha que cometemos um erro, pode apelar”. São transparentes quanto à censura. Mas alguns países simplesmente mentem quanto a isso, e mostram páginas de erro. A Tunísia, por um longo tempo, mostrava a página de erro do Internet Explorer, mesmo se você estivesse usando o Chrome ou Mozilla. A página estava em francês, mas escrita com erros. Eles tentavam disfarçar a censura e fazer o usuário pensar que o navegador estava com problemas. É como muitos governos gostariam que as pessoas se sentissem.
Como funciona a censura nesses países?
Em um país como a China, a internet é censurada de 3 modos. Primeiro, o governo bloqueia o acesso a certos sites. É muito difícil acessar o Twitter, por exemplo. Em segundo, há censura extensiva nas ferramentas que a maiorias dos usuários têm acesso. Então, ao invés de usar Twitter, os chineses usam o Weibo, onda há certos termos que não poderão usar. Se usar, sua conta será fechada. O terceiro modo é encorajando a visão nacionalista para dominar as conversas na internet, tornando mais difícil colocar outras opiniões.
Quando falamos em se livrar da censura, falamos de uma tarefa especializada. Se você quiser acessar Twitter na China, você vai precisar de um proxy [servidor que permite conectar-se a computadores no exterior, livres da censura]ou um software como o Tor. Alguns chineses que querem ter contato com a audiência internacional escolhem fazer isso. O problema é que se você for um usuário chinês e usar o Twitter, você vai falar com americanos, brasileiros e europeus, mas não estará falando com chineses, porque eles usam Weibo. Então você pode pensar como se o país tivesse duas internets. Uma domestica controlada principalmente pela censura e outra internet internacional para quem domina a tecnologia.
Essas ferramentas para driblar a censura têm suas limitações?
O que essas ferramentas são boas em fazer é passar pelo primeiro tipo de censura, quando o país diz que você não pode acessar um tipo de conteúdo. Essas ferramentas são perfeitas para isso, mas muito lentas. Outro problema é que elas quebram algumas páginas, páginas muito interativas, que usem Java.
O grande problema com essas ferramentas é que são muito pouco usadas. Fizemos um cálculo um ano e meio atrás e tentamos descobrir quantos usuários em países que censuram a internet as usam. Chegamos à estimativa de 3%, o que é menor do que esperávamos. Ficamos surpresos, mas parece que muitos chineses pensam: “Que chato não conseguir acessar o Twitter, mas todos os meus amigos estão no Weibo. Então é com isso que me importo”. Isso é mais comum do que pensamos.
Esses governos teriam como saber quem tenta acessar algum site proibido?
Não seria muito difícil para eles saberem quem quer acessar esses conteúdos, mas não temos visto esses governos perseguindo esse tipo de usuário. Eles seguem os agitadores e ativistas, não os cidadãos comuns que buscam informação. Essa não a principal ameaça para eles. Há muitas histórias de governos prendendo gente por postar coisas na internet.
Então o governo, além de proibir o acesso a certos sites pode partir para uma censura mais... física, prendendo seus cidadãos?
Nós já discutimos 3 formas de censura. Existem mais duas formas importantes. Uma é intimidando as pessoas, fazendo elas sentirem medo de criar conteúdos e de escrever online. Outra forma é fazendo ataques contra sites que te incomodam.
Alguns paises usam só um desses modos?
Claro. Por exemplo, a Rússia é boa em alguns tipos de censura, mas não se envolve com outros. Ela muito raramente bloqueia o acesso a conteúdos. Mas eles intimidam pessoas, principalmente jornalistas. Eles promovem vozes pró-governo e fazem ataques de negação de serviço a algumas páginas. É interessante que eles não sintam necessidade de usar a censura de modo tradicional, uma vez que as outras ferramentas são tão eficientes.