Esse é o projeto Candela (Consórcio para Análise da Diversidade e Evolução na América Latina), que tem o objetivo de investigar aspectos genéticos e morfológicos da população na América Latina, como características faciais, cor da pele, olhos e cabelo.
Os resultados devem contribuir para uma compreensão única sobre a dinâmica de miscigenação, a percepção social de ancestralidade e a genética da aparência física humana.
Capitaneado pelas pesquisadoras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Tábita Hünemeier, Maria Cátira Bortolini e Lavínia Schüler-Faccini, o projeto é uma parceria entre grupos do Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Peru, México e Inglaterra.
Segundo Tábita, as ações começaram a tomar forma durante o tempo em que esteve na Inglaterra por conta de seu doutorado.
"Foi quando conversamos com o professor Andrés Ruiz-Linares sobre como poderíamos transformar o que já vínhamos fazendo em um grande estudo populacional", conta.
As respostas para as questões dos pesquisadores do Candela devem surgir a partir de uma varredura genômica que deve alcançar 1,5 mil pessoas em cada um dos países parceiros da iniciativa.
A coleta de dados reúne informações acerca de pigmentação (quantificação da cor da pele), estatura, peso, circunferência da cintura, quadril e cabeça, além da digitalização em 3D da imagem da face e da quantificação digital da cor dos olhos.
O voluntário também é submetido a um questionário de autoavaliação. "Fazemos perguntas sobre percepção e autopercepção de ancestralidade. Queremos saber como a pessoa se percebe, o que ela sente em relação a isso, se tem vergonha, orgulho. A gente responde ao mesmo questionário em relação a ela. Temos três níveis de análise: o real, que é baseado em termos técnicos, o que a pessoa está dizendo e como o pesquisador vê o avaliado", detalha.
Além de determinar características da população latino-americana, Tábita explica que um dos objetivos é compreender a população brasileira.
"Ela tem um aporte negro muito forte, um aporte indígena relativamente forte e um aporte de vários lugares da Europa, além de outras ancestralidades, como da Ásia e do Oriente Médio. O Brasil é um país muito miscigenado, mas também multiétnico. Não necessariamente todas as pessoas são miscigenadas, mas há vários contextos populacionais dentro de um país só, que é uma coisa que não se vê em outros lugares", explica.
Por conta dessa variação, a coleta é feita em diversos lugares, justamente com o objetivo de atingir a maior variabilidade possível.
Outro objetivo do Candela é compreender como os genes estão relacionados à forma física das pessoas.
A pesquisa também propõe uma medição da quantidade de melanina, pela qual é possível saber com precisão a cor do voluntário. A partir desses dados, os participantes recebem um relatório com resultados individuais.
"Mandamos o resultado genético com a porcentagem de ancestralidade genética e a aparência física dela posicionada dentro da amostra geral", diz.
Tábita acredita que esse seja um trabalho sem precedentes em termos de estudos com populações humanas miscigenadas.
"É um projeto de enorme valor social. Um valor de determinação do que é o brasileiro", avalia. As amostras devem ser coletadas até maio, e a previsão é de que os resultados sejam finalizados ainda em 2012.