Mas, o que significa estar relacionado? Quando usamos esta palavra queremos dizer que se trata de alguma classe de vínculo entre entidades individuais, objeto com objeto ou sujeito com objeto.
A palavra relação, pressupõe aqui um estar separado, união de uma fração com outra. Esta visão fracionada do estar relacionado é puramente conceitual. É um produto da mente e não tem nada a ver com a concepção pura, com a realidade, com o que é a verdade.
Quando vivemos livre de toda idéia e projeções, entramos em contato real com o que nos cerca. Falamos deste ponto de vista prático, portanto, antes que possamos nos relacionar com nosso entorno, devemos saber nos relacionar com o que está mais próximo de nós, o corpo, os sentidos e a mente. O único impedimento para a percepção clara do nosso estado natural é a vigorosa idéia de ser um indivíduo separado, de viver em um mundo com outros seres separados.
Temos uma imagem de nós mesmos. Esta imagem só se pode manter em relação com outras coisas e deste modo nos relacionamos com os objetos, amigos, filhos, cônjuges, inteligência, conta bancária etc.. e entramos em relação pessoal com estas projeções. A idéia fantasiosa de um eu é uma contração, uma limitação do Ser real em sua totalidade. Quando esta noção morre, encontramos nossa expansão, quietude e globalidade naturais sem periferia nem centro, sem exterior nem interior.
Sem a noção de indivíduo e não há sensação alguma de estar separado e nos sentimos em unidade com todas as coisas. Sentimos como que os acontecimentos que nos cercam, são a manifestação irrestrita da totalidade. Quando nosso cônjuge ou filhos se vão de casa ou nossa conta bancária se desmorona, é um evento que acontece em nós. A consciência permanece constante.
Todo fenômeno, toda existência é uma expressão dentro da sua globalidade e as variedades de expressão só tem significado e relação à luz do todo.
Relacionar-se é relacionar-se com o todo. Posto que não há nenhum encontro de frações, e no todo não há nenhum outro. Falando com propriedade portanto, na perfeita relação nem dualidade alguma; unicamente há a globalidade.
Toda percepção aponta diretamente ao nosso ser essencial, a quietude, ao estado natural que é comum a toda existência. Assim na expressão humana, estar relacionado é estar em comunhão com o todo. E nesta comunhão, a assim chamada presença do outro se sente como uma doação espontânea e nossa própria presença é um espontâneo receber.
Já não há uma sensação de falta, por conseguinte, uma necessidade de pedir, porque recebendo nos traz a nossa abertura. Quando vivemos em abertura o primeiro impulso é oferecer. Estar em abertura e o movimento espontâneo de oferecer é amor.
Amor é meditação. É uma nova dimensão do viver."
Jean Klein em Quien Soy?
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Lisa Teixeira
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Novembro / 2011