No Ocidente, o Tantra propagou-se e popularizou-se entre adeptos do misticismo, do esoterismo e da magia ritual, em escolas iniciáticas ligadas a nomes como Aleister Crowley ou Samael Aun Weor, sociedades outrora secretas, denominadas Golden Dawn, Sociedade Gnóstica (Gnosis) e outras. A maioria desses ensinamentos deturpam completamente a Visão Original do Tantra em sua compreensão mais profunda e original.
Também no Ocidente, por volta dos anos 60, surgiu a criação de um movimento que continua atual, denominado Neotantra, ligado à Nova Era e tido como uma popularização dos ensinamentos Tântricos, adaptados a novos movimentos terapêuticos de vanguarda como a Bioenergética, a Primal e as meditações do Mestre Indiano Osho. O movimento Neotantra também fugiu do contato com o sistema existencialista proposto pelo Tantra, que é um caminho de acesso ao potencial energético criativo e libertador existente na raça humana, ainda em estado germinativo, mas prestes a desabrochar se encontrar as condições propícias.
Muitos trabalhos com o Tantra não trazem uma compreensão clara da extraordinária herança daquilo que pretendem representar e incorrem na perigosa distorção, vulgarização e banalização do sexo e no incentivo e valorização do jogo da sedução nos relacionamentos, como se o Tantra tivesse esse objetivo. Mesmo na Índia e no Tibet, o Tantra tem o seu quinhão de fracasso moral. De drogadictos a alcoólatras, de pervertidos a maníacos, muitos falsos mestres e gurus abrem seus clubes de encontro e sedução sob a indefinida denominação de "Tantra". O Tantra tornou-se, então, uma evasão fácil, reduto para inúmeros degenerados morais e sexuais. Mesmo em seu país natal, os ensinamentos Tântricos caíram em descrédito, precisamente por causa do uso indiscriminado de muitos de seus fundamentos atrelados ao sexo livre e superficial.
No Tantra Original, as práticas proporcionadas conduzem àquilo que se pode chamar de "Experiência Oceânica". Seu modelo básico para a interação com outros organismos e com o sistema não se processa através de uma única descarga liberadora e a conseqüente distensão após um período de tensão e esforço. Ao contrário, experimenta-se um fluxo brincalhão, relaxado e solto, mutuamente alimentador, com base no êxtase, num intercâmbio de energias que lembra danças e jogos (Leela, em sânscrito).
O resultado desta experiência permite que a pessoa vivencie a expansão dos próprios limites, a dissolução dos condicionamentos negativos, castradores e repressores, para se experimentar um sentimento de fusão com o parceiro e com o todo, em um estado de feliz unidade.
No Tantra, a união dos genitais e a conseqüente descarga orgástica, embora poderosamente experienciadas, são consideradas secundárias em relação à meta final, que é alcançar o estado transcendental da união dos princípios masculino e feminino em sua propagação ao infinito, a denominada Unyo Mystica.
As pessoas que alcançam essa forma de sexualidade experimentam a ausência de ruído biológico dentro de um complexo sistema espiritual, espontâneo e natural. Sob este aspecto, alguns componentes são fundamentais para alcançar a compreensão do significado original e verdadeiro do Tantra, sem os quais, seu sistema existencial e sua co-relação com o Sagrado fica incompleta.
O Tantra Original não está contido em livros ou textos, como constantemente é propalado entre os adeptos do Yoga ou do Budismo. Sua fonte é a própria fonte geradora da vida e é necessário alcançá-la de forma vivencial, através das meditações e dinâmicas propostas. Trata-se de uma conexão transcendente com a vida e o viver, que estão acessíveis e disponíveis a qualquer ser humano, pois não há privilégios. Não são necessárias práticas austeras ou isolamento. Pelo contrário, o trabalho com o Tantra é social, não há nenhuma necessidade de rituais ou paramentos litúrgicos.
O Tantra é simples e exige simplicidade por parte de quem o pratica.
O sistema existencialista humanista presente no Tantra necessita de confiança, entrega, relaxamento profundo, amor e compaixão, para que o estado de percepção e consciência ampliada conduza à experiência da supraconsciência.
O Tantra oferece ao indivíduo a chave que pode abrir a sua consciência, independentemente de sua cultura ou religião. A essência dos ensinamentos tântricos está contida na nossa natureza mais íntima, nosso estado primordial e iluminado, que é a nossa potencialidade inerente. Esses ensinamentos estão livres do Karma, porém são oprimidos pelos condicionamentos sociais. Nosso estado primordial não é algo que deva ser construído ou conquistado, mas algo existente desde o princípio, e goza da mesma sabedoria e inteligência que modela o universo e permeia a natureza. O ser humano perdeu o contato com essa sabedoria natural no esforço cotidiano de sobreviver. O Tantra possui os dispositivos para a conexão com essa fonte original, de onde emana a vida e as tramas do desenvolvimento das espécies.
Deva Nishok
Não. Tantra não está ligado a incríveis performances sexuais, orgias mirabolantes ou sexo grupal como frequentemente se propaga por aí. O Kama Sutra e o Maithuna nada têm a ver com o Tantra, pois pertencem a histórias bem diferentes. Por razões tendenciosas, o Kama Sutra e o Maithuna foram integrados ao Tantra, mas não o são.
Os adeptos que se aproximam do Tantra praticado no Centro Metamorfose com o interesse meramente sexual são excluídos, se não conseguem alterar seu padrão energético e vibratório. Essa motivação sexual oferece inúmeros desequilíbrios energéticos que interferem no processo de desenvolvimento dos grupos.
O Tantra elabora suas performances baseadas em meditações ativas e vivências, com o objetivo de potencializar a sensibilidade e a percepção da energia, mas sem utilizar-se de rituais, oferecendo ao indivíduo toda a liberdade que necessita para perceber e sentir. O Tantra não é um manual de sexo, de posturas rituais rígidas e dogmáticas. O Tantra trata da nossa relação com a energia; da forma como nos apropriamos da energia, da relação com os Chakras - Centros energéticos localizados no corpo; de como a energia é direcionada a partir dos centros para a otimização do viver em vários níveis, num processo de múltiplas transcendências. O Tantra aprimora a percepção da energia e potencializa muito a sensibilização do prazer, utilizando-se de abordagens bem específicas.
Tantra começa com um trabalho corporal onde o corpo é o inicio, o meio e o fim em si mesmo. Entretanto, o corpo tem nuances que desconhecemos e que só são possíveis de alcançar com a depuração da sensibilidade. Trazemos no corpo as marcas de fortes condicionamentos impostos pela sociedade ao longo de nossas vidas. Os trabalhos com o Tantra objetivam o descondicionamento do corpo, da mente, das emoções e do espírito.
O corpo é o caminho para uma compreensão profunda, que diz respeito aos nossos medos e fraquezas, nossos sentimentos de inferioridade ou de grandeza; as atitudes comportamentais que adquirimos para sobrevivermos no meio social.
Podemos afirmar, portanto, que o Tantra é sensorial e desrepressor.
"O sexo é a energia mais vital do homem e não deveria constituir um fim em si mesmo. O sexo deveria guiar o homem até sua alma. O objetivo é desde a luxúria até a luz”" (Osho - Do sexo à Supraconsciência.)
Não. O caminho de auto-realização do Tantra é sensorial e prático, pela propriocepção, isto é, a percepção de si mesmo, pelo reconhecimento e expansão de sua sensibilidade e sua consciência, e não pela compreensão das palavras ou pelo entendimento intelectual. O Tantra nos possibilita um entendimento experimental, no qual alcançamos uma compreensão maior, mais abrangente e mais significativa do que aquela compreensão usual proveniente das palavras e do raciocínio lógico. O Tantra lida com o hemisfério direito cerebral, com a experiência não-verbal, com aspectos sensoriais que interferem diretamente na esfera do comportamento humano.
A linguagem do Tantra é, portanto, Experimental, Vivencial e Integrativa.
Não. No entanto, através do Tantra, o homem alcança um profundo sentimento de religiosidade. Tantra está totalmente impregnado de espiritualidade, mas não é religião. Tantra não pode possuir dogmas, sistemas, preces, orações, rituais ou símbolos. Tantra não deve fazer uso de mantras com a conotação usual que os mantras adquiriram; não se utiliza de mudras, de paramentações ou formalidades litúrgicas religiosas. O Tantra Original não está ligado ao Budismo, ao Hinduísmo, ao Taoísmo ou ao Jainismo, embora algumas correntes ligadas a essas religiões tenham se utilizado muito indevidamente e contraditoriamente de fundamentos aplicados no Tantra. Estas se auto-denominaram “tântricas” e alteraram muitos de seus preceitos, incorporando ideologias e posturas que, na essência, desmontam todos os objetivos do Tantra, distorcendo-o completamente.
A relação entre Tantra e Maithuna é formalmente deturpada por muitos praticantes, sendo que muitos adeptos acreditam que a prática do Tantra refere-se apenas ao ritual de Maithuna isoladamente.
Muitos crêem também que o Tantra basicamente refere-se à contenção ejaculatória, em conformidade com o pensamento Taoísta, proposta como um caminho espiritual. No entanto, esta prática pode, inclusive, trazer riscos e danos ao organismo, caso não seja trabalhada de maneira adequada. O Tantra, em sua originalidade, não prevê nenhum tipo de contenção, muito menos ejaculatória, pois se refere basicamente ao relaxamento e descondicionamento do corpo.
O Tantra resgata o Sagrado e o Divino que existe em cada ser humano, através do silêncio, da entrega, da confiança e do relaxamento profundo.
Não. O contato com Tantra possibilita sim, uma espécie de sabedoria ou saber, mas não é o saber racional e lógico. Santo Agostinho dizia: ”Se me perguntas que é Deus, eu sei. Se me perguntas que é Deus, aí eu não sei mais”. Tantra não se utiliza da linguagem falada, mas do silêncio, do inaudível. O indivíduo é conduzido a viver plenamente, com totalidade, a sua sensibilidade e a percepção, em vários níveis - físico, mental, emocional e espiritual, sem buscar como rota de fuga a tagarelice mental, verbal, a elucubração ou outras formas de comunicação intelectuais.
O Tantra é reconhecido por muitos como uma Ciência Comportamental, mas suas bases são completamente diferentes da Ciência oficial, que se baseia na razão e na lógica. O contato com o Tantra é profundamente transformador, como a nossa humanidade jamais conheceu.
Tantra é, portanto, Sensibilidade Consciente e novos Caminhos Cognitivos.
Não. As mesmas vertentes filosóficas que se apropriaram das fundamentações do Tantra Original, associando-as com práticas e conceitos religiosos também o subverteram, agregando formas e conteúdos antagônicos ao Tantra, como o Karma e o Dharma, por exemplo. Se Tantra é o momento presente, o aqui e agora, como pode ocupar-se do passado? (Karma) ou do futuro? (Dharma). Para o Tantra não há passado, o passado é memória; não há futuro, o futuro é desejo.
Para que o estado de compreensão profunda aconteça, é necessária uma mudança de paradigmas, onde a visão cartesiana, filosófica, religiosa e científica seja alterada para uma nova visão - de abertura ao novo, ao misterioso e ao desconhecido: A Visão Tântrica.
O Tantra trata basicamente de relaxamento, aceitação e entrega, não tendo nenhuma relação com controle ou poder, com manipulação da energia, seja através da mente ou do corpo físico. Tantra não se utiliza de Ásanas ou posturas utilizadas como rituais, clássicos no Yoga. Suas técnicas de meditação são dinâmicas e vivenciais, flexíveis, que podem ser modificadas segundo a necessidade que cada indivíduo ou grupo apresentem no seu aprendizado, nada parecido com as meditações Budistas, por exemplo.
Não há rigor em Tantra, não há disciplina, não há imposições, oposições ou repressões. Muitos princípios do Tantra estão presentes no Yoga, porque o Yoga apropriou-se desses princípios equivocadamente, integrando-os ao seu sistema, dando a impressão de que pertencem ao Yoga. Tantra é muito anterior ao Yoga, apesar dos adeptos do Yoga se basearem em manuscritos, alguns apócrifos, onde Sutras fazem referências ao Tantra. Mas em Tantra não há regras, cartilhas ou programas. É mais correto afirmar que o Tantra desprograma e não reprograma nada. Toda a causa da infelicidade humana tem ocorrido por excesso de regras, manuais e cartilhas, na interdimensão dos sistemas, na pluralidade da vida, na multidimensionalidade da vida em múltiplos aspectos. O que isso significa? Não pode ser dito, não há palavras. Tantra é não verbal.
Nas tradições iniciáticas do Tantra, nas Escolas de Segredos e Escolas de Mistérios do Tantra, tem-se que ele está inserido no contexto do processo formativo da humanidade, no desenvolvimento humano desde os primórdios. Tantra está inserido em nosso DNA, em nossos cromossomos, e possui uma contraparte na alma coletiva, num complexo espiritual que desconhecemos ainda, constituindo uma “trama” no tecido existencial que contém vínculos entre todas as criaturas e seu meio.
Essas escolas sempre foram eletivas e promoveram a iniciação de pessoas de forma muito seletiva; nunca estão abertas, pois exigem muita adequação e significativa preparação de seus iniciados, principalmente no campo da sensibilidade e da percepção.
A grande
convergência de interesses entre o Tantra e o Yoga está no alcance de um amplo estado de consciência superior, Bhúdico, chamado de Hiperconsciência ou Supraconsciência – um estado que não se alcança com a mente ou com a disciplina, pois é necessário ir além da mente.
Tantra é, portanto, comportamental, espontâneo e natural.
Tantra é um novo estado de consciência e percepção, que proporciona uma nova compreensão da vida e do viver, que não é possível ser alcançada pelas vias do entendimento lógico e racional.
O Caminho do Tantra é O Caminho do Amor. Através do Tantra, alcançamos um sistema novo de comunicação e compreensão: A Suprema Compreensão.
Da Mente para o Coração; do Coração para o Ser; do Ser para o Não-Ser.